Quarentenário IAC

Christina Dudienas¹, Roberta Pierry Uzzo¹ e Barbara Negri²

1 Instituto Agronômico, Centro de Fitossanidade, dudienas@iac.sp.gov.br; 1 rpuzzo@iac.sp.gov.br;

2 Engenheira Ambiental e Sanitária da PUCCampinas, barbaranegri88@yahoo.com.br

Atuação na Defesa Fitossanitária no Brasil

O Quarentenário do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem como objetivo conter, detectar e identificar pragas em materiais vegetais importados para serem utilizados em programas de pesquisa. Em 1998, foi credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como Estação Quarentenária nível 1, estando, portanto, habilitado a realizar quarentena de qualquer material vegetal, convencional ou geneticamente modificado - GM (CQB n° 418/2016), proveniente de qualquer parte do mundo.

Atualmente, está solicitando recredenciamento junto ao MAPA pela Instrução Normativa 29 (24/08/2016), fundamentado na Convenção Internacional para Proteção de Vegetais (CIPV). Para isso, está modernizando seus laboratórios e casas de vegetação, adaptando suas estruturas às novas legislações de biossegurança e meio ambiente. Estão sendo revistos todos os protocolos de análises e controle de registro, com obediência aos procedimentos de segurança fitossanitária estabelecidos pela IN 29.

São realizadas análises em laboratório e casa de vegetação para detecção de plantas daninhas, insetos, ácaros, nematoides, fungos, bactérias e vírus com objetivo de impedir a introdução no Brasil de pragas ausentes no país.

O quarentenário está inserido no Centro de Fitossanidade do IAC e conta com uma equipe técnica composta de pesquisadores que atuam prontamente para solucionar problemas relacionados à presença de pragas nos materiais importados. Atualmente, o tempo de permanência de materiais vegetais no quarentenário varia de dois meses, para sementes de plantas anuais ou material “in vitro”, a 24 meses, para sementes ou outras estruturas de reprodução de plantas perenes.

O Quarentenário IAC situa-se no município de Campinas-SP, no Centro Experimental do Instituto Agronômico. Sua localização é favorecida pela proximidade de aeroportos e extensa malha viária , facilitando o deslocamento de cargas na chegada no país e transporte para as diversas estações experimentais de empresas e instituições de pesquisa, após realizada a quarentena. Toda carga de material importado é armazenada em ambiente controlado no quarentenário durante o processo de quarentena.

Seu histórico de introduções de materiais vegetais inicia-se em 1999, com números crescentes de importações, o que indica que a pesquisa científica nessa área está em expansão no território brasileiro.

Histórico

As primeiras introduções de materiais vegetais no Brasil através do Quarentenário IAC ocorreram em 1999, totalizando apenas cinco, permanecendo nesse patamar até 2006. Somente a partir de 2007, esse número começou a ser mais expressivo, passando para 82 quarentenas, atingindo em 2016 um total de 233. A previsão para este ano é que sejam realizadas 200 quarentenas.

O Quarentenário IAC possui como parceiros de importações cerca de 100 empresas e institutos de pesquisa públicos ou privados. Os países que mais enviaram germoplasma para o Brasil foram: EUA, Holanda, Porto Rico e Argentina. Também foram introduzidos genótipos dos seguintes países: África do Sul, Angola, Canadá, Coreia do Sul, França, Guatemala, Índia, Itália, Israel, Japão, México, Nova Zelândia, Síria, Vietnã, Tailândia e Zimbábue.

Houve a introdução de mais de 50 diferentes espécies vegetais em forma de sementes, mudas, toletes, estacas, gemas, flores e plantas in vitro. A maior quantidade de acessos de sementes ou plântulas in vitro analisadas foram: tomate, melancia, melão, soja, milho e eucalipto. Além dessas culturas, houve importação de germoplasma de outras culturas já estabelecidas no Brasil em plantios comerciais como: cana-de-açúcar, algodão, arroz, cenoura, macieira, pessegueiro, damasqueiro, mangueira, tabaco, trigo, pinhão manso. Houve também importação de germoplasmas menos disseminados no país, como cártamo, duboísia, pongamia, marmeleiro, estévia, niger, tagetes, entre outros.

A partir de 2014 até o presente, houve um total de 744 quarentenas e aproximadamente 100.000 acessos liberados, entre convencionais e geneticamente modificados.

É importante salientar ainda que, além de um grande número de culturas introduzidas no país através do Quarentenário IAC e da diversidade do país de origem, existe também variação no peso de cada material. Cada carga chega com números diferentes de acessos, que podem ser diferentes variedades ou linhagens, havendo desde um acesso em determinada quarentena até 9.500 em outra, com pesos variando de 0,5g a 65 kg para cada acesso. 

Considerando o período de 1999 até 2015, encontraram-se pragas não quarentenárias, tais como: Coletotrichum spp., Cercospora spp., Fusarium spp., Alternaria spp., Curvularia spp., Penicillium spp., Aspergillus spp, Drosophila spp, insetos das famílias Formicidae, Diplopoda, Collembola, Gastropodae e Hemiptera, plantas daninhas das espécies Sorghum halepense, Amaranthus hybridus, Amaranthus sp., Digitania spp., Cyperus spp. e um vírus quarentenário - Cucumovirus - em estévia, originária do Japão, identificado através dos processos de inoculação em plantas indicadoras, teste elisa, análise em microscopia eletrônica e molecular pelo método PCR.

Em 2016, foi detectado em sementes de Corymbia importadas da Austrália o inseto identificado como Moona spermophaga, praga quarentenária sem registro de ocorrência no Brasil, levando à destruição todo o material vegetal importado.

Observa-se que tem havido uma maior preocupação por parte das empresas e das instituições que importam formalmente germoplasma para pesquisa em importar materiais com melhor qualidade fitossanitária. Isso é resultado de um trabalho intenso de análises fitossanitárias do quarentenário e fiscalização do MAPA, além de uma maior conscientização por parte dos importadores.

O Quarentenário IAC vem contribuindo, ao longo dos seus 21 anos, para a segurança fitossanitária brasileira, impedindo a entrada de novas pragas em materiais vegetais importados para realização de trabalhos de pesquisa.

 

Figura 1. Vista frontal do Quarentenário IAC.