O Melhoramento Genético e Manejo Cultural da Uva no Instituto Agronômic

Mara Fernandes Moura¹, José Luiz Hernandes¹ e Mário José Pedro Júnior²

² Centro APTA de Frutas, mouram@iac.sp.gov.br;

² Centro de Ecofisiologia e Biofísica

A produção brasileira de uvas em 2016 foi de 958.676 toneladas, sendo o Estado de São Paulo o segundo em área plantada e o terceiro em volume de produção (143000 ton.) (Verdi e Otani, 2016). Grande parte da uva plantada no Estado de São Paulo - 93% da produção paulista dessa cultura - é baseada nos cultivares para consumo in natura, chamados uvas para mesa. No entanto, há um cenário de mudança para os próximos anos, uma vez que o consumo de vinho e de suco tem aumentado gradativamente, necessitando dessa forma de produção de uvas para processamento. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN, 2015), o consumo de suco de uva no Brasil aumentou 570% em apenas 10 anos, passando de 15,8 milhões de litros em 2005 para 90,3 milhões de litros em 2014. Esse acréscimo está atrelado ao consumo de alimentos funcionais, já que o suco de uva e o vinho possuem capacidade antioxidante e compostos fenólicos que apresentam ação anticarcinogênica, antiviral e antioxidante.

Assim, para abastecer a demanda de produção de sucos e vinho, existe a necessidade de variedades que sejam adaptadas às condições de clima e relevo do Estado de São Paulo. Para tanto, o melhoramento genético e as técnicas de produção têm sido realizados no Instituto Agronômico desde sua fundação, em 1887.

Figura 1. Coleção de germoplasma – avaliação a campo.

O melhoramento genético da videira teve seu início no Instituto Agronômico por meio da introdução de variedades europeias e americanas pelo então diretor da antiga estação experimental, Franz Daffert. Vale ressaltar que os primeiros estudos dessas variedades culminaram na seleção de variedades adaptadas à região, como a Seibel 2, Catawba Rosa, Herbemont, Golden Queen, Seyve Villard, entre outras que, por décadas, tiveram importância para a viticultura paulista, tanto de vinho quanto de mesa, e que depois foram suplantadas pelos cultivares americanos introduzidos - Isabel, Bordô e Niagara - e hoje plantados em todo o Estado devido a suas melhores características, principalmente de fertilidade e rusticidade. Não obstante, os programas de melhoramento genético foram iniciados visando à obtenção de variedades de uvas para o consumo in natura, uvas para vinho e também para portaenxertos.

Eram três os programas de melhoramento genético desenvolvidos no IAC: o primeiro em São Roque, coordenado pelo pesquisador Wilson Corrêa Ribas; o segundo em Jundiaí, coordenado pelo pesquisador Júlio Seabra Inglez de Souza; e em Campinas, coordenado pelo pesquisador José Ribeiro de Almeida Santos Neto. Desses três programas de melhoramento, culminaram diversos cultivares de uvas para consumo in natura, como IAC Patrícia, IAC Piratininga, IAC Juliana; uvas para vinho, como a IAC Máximo, IAC Rainha, IAC Madalena, e os portaenxertos, como IAC 766 Campinas, IAC 572 Jales, IAC 313 Tropical e IAC 571-6 Jundiaí.

Figura 2. Avaliação física e química das uvas.

Vale ressaltar que os portaenxertos IAC 313 e IAC 572 foram a base para o plantio de uvas em região semiárida do Vale do Rio São Francisco, e o IAC 766 Campinas é o portaenxerto base da vitivinicultura paulista.

Figura 3. Emasculação das flores – cruzamentos dirigidos e plântulas originadas dos cruzamentos.

Atualmente, o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica de Frutas conta com o programa de melhoramento e manejo cultural da videira e vem trabalhando na obtenção de novas variedades para processamento e técnicas culturais para a melhoria da uva, do vinho e suco, como inversão de podas, estudo da interação copa e portaenxerto, cultivo protegido e sistemas de condução.

No programa de melhoramento, o trabalho começa com a avaliação da coleção de germoplasma, que hoje conta com aproximadamente 300 variedades de uvas para vinho, suco e mesa.  Essa avaliação tem como objetivo identificar e selecionar genitores com boas caraterísticas do fruto, como coloração, maior teor de antioxidantes, maior teor de sólidos solúveis e o balanço entre sólidos solúveis e acidez. Também nessas avaliações tem-se estudado o ciclo, a produção e a tolerância às principais doenças

 Uma vez selecionados genitores, realizam-se os cruzamentos para a obtenção da progênie e, então, a seleção de indivíduos superiores em relação a todas essas características. Uma vez selecionados genótipos com boas características, outros estudos são requeridos, como compatibilidade de copa e portaenxerto, sistema de condução mais adequado, entre outros. Outro trabalho que tem sido realizado é a introdução de novas variedades de uvas europeias (italianas e alemãs) para o estudo de adaptação em nossas condições. Há um forte apelo pelos produtores locais por uma variedade vinífera que tenha origem italiana, uma vez que houve importante colonização italiana na região de Jundiaí (SP).

Assim, o programa de melhoramento de uva do Instituto Agronômico tem como principal finalidade obter variedades de uvas para vinho e suco que sejam produtivas e que agreguem valor nutricional para o consumo, visando à sustentabilidade do produtor e à qualidade de vida do consumidor. Desse modo, diversas colaborações têm sido realizadas com outras áreas, como citogenética, fitoquímica, fertilidade e adubação, climatologia, fitopatologia, entre outras.

Figura 4. Isabel Precoce – uva de múltipla finalidade (vinho, suco e mesa) em sistema de condução em Y, associando a precocidade e rusticidade do cultivar à produtividade, redução de mão de obra e redução significativa de defensivos do sistema em Y, quando associado ao cultivo protegido.

Figura 5. IAC 138-22 ‘Máximo’ – cultivo em sistema de condução em Y – rusticidade e alta produtividade associadas a elevados teores de polifenóis (antocianinas e taninos).

Referências

Verdi, A.R., Otani, M.N. Vitiviniculture in the State of São Paulo (Brazil): Governance and technological strategies meeting market challenges. BIO Web of Conferences Volume 7, 2016.


39th World Congress of Vine and Wine. IBRAVIN. (2015). Pesquisa mapeia hábitos de consumo do suco de uva 100%. Pesquisa em Outubro, 2016, pelo site www.ibravin. org.br/noticias/245.php