Deputado Arnaldo Jardim – Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Por Carla Gomes (MTb 28156) - Jornalista científica, Assessora de Imprensa do Instituto Agronômico, IAC.

1 – Como o senhor avalia as contribuições que poderão vir dos institutos paulistas de pesquisa agropecuária para a bioeconomia?

Essa contribuição já existe, o que mostra que nossos institutos estão conectados com o que há de mais novo na pesquisa e atentos às necessidades do nosso produtor. A agropecuária no Estado de São Paulo é protagonista neste aspecto, com iniciativas tanto públicas quanto privadas que já levam em conta não apenas o lucro, mas também os desdobramentos e impactos de cada grão de arroz que nasce do solo, cada pé de cana que desponta no canavial. Há cerca de um ano, seguindo orientação e incentivo do governador Geraldo Alckmin, lançamos o Projeto de Políticas Públicas em Bioeconomia (PPPBio), trabalho conduzido pelo Agropolo Campinas-Brasil, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e participação determinante dos institutos de pesquisa da Secretaria e um conjunto de entidades da pesquisa, academia e produção. O objetivo é multiplicar e transferir para o setor produtivo avanços tecnológicos, assim promovemos workshops que abordam temas como resíduos agrícolas e urbanos, biocombustíveis avançados, alimentos funcionais, agricultura de precisão e óleos e plantas aromáticas e medicinais.

2 – Os resíduos constituem um tema de grande importância para a bioeconomia, considerando aspectos de reciclagem, impactos ambientais e econômicos. O IAC tem trabalhos que visam ao aproveitamento de resíduos como fertilizante e também firmou parceria com a Prefeitura de Campinas para colaborar no reuso de podas de árvores para compostagem no projeto Reciclar Verde. Como o senhor vê essas ações diante do potencial de transferência para outras localidades?

É um exemplo a ser seguido porque tem grande potencial de ser aplicado. Esse sistema de compostagem transforma 200 toneladas diárias de resíduos urbanos vegetais em compostos orgânicos. A expectativa é gerar cerca de 70 toneladas/dia de adubo – que serão utilizados em áreas do município e nos trabalhos do Instituto Agronômico. É mais um exemplo do protagonismo e potencial inovador da pesquisa agropecuária paulista, que irradia ideias para todo o Brasil e chama atenção do mundo – como mostra a quantidade de missões internacionais que recebemos todos os anos interessadas em nossas tecnologias.

3 – O Agropolo Campinas-Brasil, como plataforma de inovação colaborativa, reúne o IAC, o ITAL, o IB e o IZ, além da própria Secretaria de Agricultura. É uma presença forte da SAA dentro de uma ação inovadora, certo?

Com certeza. É um fato inegável da preocupação do Governo do Estado de São Paulo com a pesquisa agropecuária. Sabemos que sem tecnologia não há aumento de produtividade, renda e agregação de valor, não se cuida tão bem da natureza. Sabemos disso e fazemos todos os esforços para que São Paulo continue sendo o centro da produção do conhecimento agropecuário para o Brasil. Um ótimo exemplo é o já citado PPPBio, que mostra a atualidade do trabalho desenvolvido por meio dessa parceria. A Bioeconomia chegou para unir responsabilidade e eficiência dentro de um conceito que se espraia em todos os mais urgentes assuntos atuais. Trata a conservação ambiental considerando as mudanças climáticas, aumento de produtividade de alimentos para abastecer o mundo e geração de renda com valor agregado, garantindo sustentabilidade econômica e social. Seu desenvolvimento significa sermos capazes de atender às necessidades da sociedade moderna – como produtos e serviços – a partir da produção e transformação sustentáveis dos recursos biológicos. É preciso consciência para produzir, preocupação com o futuro e responsabilidade com todos. Queremos que a participação da economia sustentável cresça dos atuais 20% para 30% em 2025 e para 40% em 2050 em plano nacional. É um compromisso com o social, o econômico e o ambiental que tem na agricultura um papel decisivo e estrutural para sua consolidação.

4 – A competência técnica que existe em cada um dos institutos da Apta, individualmente, deverá ser potencializada pela soma das expertises com o terceiro setor para construir projetos inovadores por meio de PPPs. Recentemente, o aporte legal proporcionado pelas novas legislações e a criação dos NITs trouxeram maior segurança jurídica. Como o senhor avalia esse novo cenário?

As novas legislações facilitam a assinatura de convênios com o setor privado, viabilizando a inovação tecnológica. A produção científica paulista representa mais de 35% da produção brasileira. O Estado aplica em torno de 1,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento. É um investimento que, com os NITs, já rendeu três pedidos de patentes como titular; oito pedidos de patentes em cotitularidade junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi); registro de quatro softwares de computador e de 25 cultivares de plantas; assinatura de cinco parcerias com empresas privadas; um registro de marca já em processo de regularização da titularidade; e três análises de patenteabilidade sendo feitas. Três contratos de licenciamento de patente estão em negociação; 10 termos de confidencialidade assinados com empresas; 11 workshops sobre inovação realizados para a comunidade científica; e quatro módulos de capacitação para as equipes dos NIT abrangendo 30 colaboradores. Vinte empresas e 24 pesquisadores foram atendidos.

5 – Como o Estado considera as prioridades no campo do agronegócio e da economia sustentável, em especial no universo da ciência?

Fomentar a inovação tecnológica é a comprovação do olhar atencioso do governador Geraldo Alckmin para a pesquisa agropecuária, responsável por ganhos ambientais, sociais e econômicos na produção de nosso Estado. As instituições de pesquisa da Apta garantem retorno à sociedade de até 11 vezes o valor investido. A Apta reúne cerca de 220 normas e procedimentos laboratoriais certificados ou acreditados pelo Inmetro com a norma ISO 17025, relacionada à qualidade. Nas 28 unidades da Apta Regional, cresceu a captação de recursos oriundos da prestação de serviço e comercialização de insumos de pesquisa, uma forma de transferência de tecnologia. Outro exemplo é a comercialização de abelhas rainhas para apicultores de todo o Brasil. A Apta Regional é a única instituição pública do País que realiza esse trabalho.

6 – A pesquisa científica é a base para o avanço da bioeconomia. Como o senhor avalia as contribuições paulistas, sobretudo nas áreas da segurança alimentar, da agroenergia e da sustentabilidade?

Em São Paulo, esses três temas citados se interligam. Há iniciativas como as tecnologias de controle biológico com os ácaros-predadores do Instituto Biológico, que combatem o ácaro-rajado – um dos principais problemas na cultura de flores ornamentais. Estudos que resultam ainda em carrapaticidas à base de alecrim, como o desenvolvido pela Apta. É uma alternativa sustentável ao uso de produtos químicos, que deixam resíduos no leite e na carne a serem consumidos pela população. Desenvolvemos também um sistema que garante sanidade ao solo e dispensa o uso de agentes químicos ao utilizar a solarização. Para o uso adequado de agroquímicos, desenvolvemos o Programa Aplique Bem. Com o Programa Nascentes de Holambra e Nascentes de Botucatu/ Pardinho, estamos recuperando as águas paulistas. Em Holambra, a meta inicial é recuperar 4.464 hectares de matas ciliares, uma área equivalente a 5.400 campos de futebol, utilizando 6,3 milhões de mudas de espécies nativas. Em Botucatu, o projeto recuperará uma área equivalente a quase 86 estádios do Maracanã, onde está havendo cercamento e manutenção para consolidação da vegetação, com o objetivo de preservar as áreas de contribuição dos mananciais de água no município, recuperação de estradas rurais, terraceamento agrícola e instalação de fossas biodigestoras. Tudo isso é estratégico para o futuro da agricultura para manter solo, água e alimentos com qualidade.

7 – Quais devem ser as estratégias dos institutos da SAA para darem continuidade ao perfil da essencialidade e aproveitarem da melhor forma suas competências no meio cientifico e empresarial?

O cenário atual e futuro mostra uma pesquisa cada vez mais sofisticada, com a necessidade de investimentos cada vez maiores, com trabalho em equipes multidisciplinares e de várias instituições. Os ganhos de produtividade que permitiram a transformação do campo brasileiro basearam-se especialmente na genética, na química e na mecanização agrícola. Esse modelo ainda não esgotou suas potencialidades, mas a agricultura do século XXI exigirá novos paradigmas que garantam não somente maior produtividade, mas sistemas produtivos sustentáveis, em equilíbrio com as exigências ambientais, e exigências do padrão de consumo de alimentos da população. Para dar suporte tecnológico para essa nova agricultura, teremos que utilizar da biotecnologia e da engenharia genética, tecnologias de aproveitamentos de resíduos agroindustriais e de dejetos da produção agropecuária, ampliar o uso de sistemas de controle biológico de pragas e doenças, ampliar os sistemas integrados de produção, desenvolver novos sistemas de processamento e embalagens, garantindo qualidade sanitária, tempo de prateleira e redução de perdas de alimentos. Não basta acervo tecnológico e base científica acumulada, é preciso também manter equipe sempre qualificada.

Deputado Arnaldo Jardim

Arnaldo Jardim
Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo