Horticultura no IAC: pesquisa e inovação como instrumento de acesso a novos mercados

Arlete Marchi Tavares de Melo 1 e Eliane Gomes Fabri

1 arlete@iac.sp.gov.br Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Horticultura, IAC.

1. Introdução

A horticultura em seu conceito atual é a ciência e a arte de cultivar frutas, hortaliças, flores e plantas ornamentais, plantas medicinais, aromáticas e condimentares.

A horticultura tem uma história que começou na antiguidade com as atividades inerentes à horta e à jardinagem. Desde os primórdios da agricultura e ao longo dos séculos, o cultivo de espécies hortícolas evoluiu para um processo de interação entre homem e planta. A horticultura, como parte de um setor amplo da produção de alimentos, tem desempenhado um papel importante na transição do homem primitivo para sociedades civilizadas. Assim, a história da horticultura é, em grande parte, a história da civilização, ainda que, quando comparada com a de outras espécies vegetais, possa-se dizer que a horticultura é uma atividade agrícola recente.

Em sua universalidade, a horticultura transcende sua ligação íntima com a ciência ao se transformar em um meio de expressão do senso da arte, visto que, devido ao forte apelo visual, as formas e as cores das plantas e frutos das espécies hortícolas são tão expressivas quanto à obra de um pintor. Um dos exemplos mais fascinantes estão em Roma, na Itália: os afrescos do pintor Giovanni Martini da Udine, no palácio da Villa Farnesina, em cujo teto registrou mais de 170 espécies de plantas, incluindo hortaliças e frutas consumidas no século XVI. Giuseppe Arcimboldo (Milão, 1527-1593) também usou muitas hortaliças e flores em seus retratos. No Brasil, chamam à atenção as hortaliças e frutas retratadas por Albert Eckhout, no século XVII.

Além de utilizar mão de obra intensivamente, a horticultura agrega diferentes áreas científicas e tecnológicas. Em geral, os produtos hortícolas são comercializados predominantemente in natura ou minimamente processados e têm forte apelo visual, tornando o consumidor um elo importante das cadeias produtivas.

Sob os pontos de vista comercial e econômico, a horticultura pode ser resumida como uma atividade agrícola e tecnológica que utiliza espécies de cultivo intensivo que demandam grande investimento por unidade de área. Por essa razão, os produtos da horticultura costumam ter alto valor agregado.

Modernamente, tem recebido destaque o papel que a horticultura desempenha no bem-estar humano como fonte de lazer. Outra característica essencial da horticultura relaciona-se com os benefícios nutricionais das hortaliças e das frutas, cuja importância vem sendo amplamente demonstrada pela pesquisa científica, como fator crucial para uma dieta saudável.

O Centro de Horticultura do IAC/SAA tem como missão gerar, adaptar e transferir conhecimento científico e tecnológico para sustentação e ampliação da competitividade das cadeias de produção do agronegócio paulista da Horticultura, com ênfase no agronegócio familiar. Para atender a essa missão, o Centro de Horticultura atua com hortaliças, flores e plantas ornamentais, raízes e tubérculos, plantas medicinais, aromáticas e condimentares, palmeiras produtoras de palmito e maracujá.

A pesquisa de fruticultura, no organograma do IAC, é desenvolvida no Centro de Frutas e no Centro de Citricultura, exceto pesquisas com maracujá, que ocorrem no Centro de Horticultura.

De acordo com os registros de introdução de plantas do Centro de Horticultura, as atividades foram iniciadas na década de 1920. Ao longo de sua existência, o Centro de Horticultura mostrou acentuada vocação para o melhoramento genético clássico, abrangendo a introdução e a aclimatação de espécies e cultivares nativos e exóticos, sua preservação, bem como a exploração dessa variabilidade para fins hortícolas. Outros segmentos de atuação com destacada atividade de pesquisa são contemplados na área de tecnologia da produção hortícola, com enfoque em sistemas de produção, solos e nutrição de plantas, fitossanidade, biotecnologia e horticultura urbana e periurbana em sistema agroecológico, incluindo hortas comunitárias.

Coleções de germoplasma de muitas espécies mantidas no Centro de Horticultura foram extremamente úteis para o melhoramento genético, sendo utilizadas em cruzamentos e seleção de plantas com características superiores. Graças a esse precioso acervo, o Centro desenvolveu cultivares mais produtivos, qualitativamente melhores e resistentes a doenças e pragas. Os cultivares disponibilizados aos agricultores e em benefício de toda a sociedade transformaram o panorama varietal hortícola e econômico do Estado de São Paulo e do Brasil e consolidaram o nome do IAC dentro e fora do país. Ressalta-se, ainda, que devido ao expressivo acervo genético, muitos cultivares IAC foram utilizados por outras instituições públicas de pesquisa e por empresas privadas para a obtenção de novos cultivares.

Hortaliças

Figura 1. Cartaz da antiga Seção de Olericultura e Floricultura, do IAC.

No Brasil, a contribuição socioeconômica da cadeia de hortaliças é representada por área cultivada de 800 mil hectares, gerando 2,4 empregos/ha, produção total de 18,8 milhões de toneladas e valor de produção de R$53 bilhões. 

O hábito de produzir e consumir hortaliças no Brasil remonta ao período colonial. A introdução de diversas espécies de hortaliças pelos jesuítas e durante o período escravagista, além de diversificar a alimentação nesse período, permitiu a identificação de cultivares adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas nacionais. Essas hortaliças tiveram influência marcante na formação da diversificada e rica culinária brasileira.

À partir dos primeiros anos do século XX, no entanto, que verifica-se um notável crescimento das introduções de espécies de hortaliças e da expansão das atividades olerícolas no país. Esse fato coincide com a ampliação do fluxo migratório de europeus e asiáticos que se fixaram principalmente nas regiões Sudeste e Sul.

Entre as inúmeras conquistas do IAC na área de olericultura, o marco histórico foi a introdução, em 1937, de cultivar de cebola das Ilhas Canárias, que viabilizou a produção de sementes em São Paulo. 

Até 1930, o país importava a maior parte das sementes de hortaliças da Europa, Japão e Estados Unidos. No entanto, a deflagração da II Guerra Mundial, em 1939, mudou esse cenário de dependência, dando novo rumo à pesquisa científica, obrigando o desenvolvimento de cultivares nacionais para atender ao setor produtivo. Dessa forma, a partir da década de 1940, estabeleceram-se programas públicos de melhoramento de hortaliças (Figuras 1 e 2). Outras conquistas incluem os 44 cultivares de hortaliças que impactaram as respectivas cadeias produtivas, incluindo tomate, alface, alho, cebola, brócolis do tipo ramoso, morango, quiabo, pimentão, pimenta e repolho. O programa de melhoramento de hortaliças do IAC deu grande contribuição ao agronegócio olerícola no Brasil, extrapolando as fronteiras de São Paulo, com seus cultivares sendo plantados em todo o país e no exterior.

Na década de 1940, foram iniciados os programas de melhoramento de morango, alho, cebola e brássicas (brócolis, couve-flor e repolho). As pesquisas se intensificaram a partir de 1960, quando os programas de quiabo (1961), pimentão e pimenta (1961), tomate (1962) e alface (1968) foram delineados e suas atividades passaram a ser executadas.

Figura 2. Hortaliças de frutos criadas com perfeição em gesso pelo artista plástico campineiro Castro Mendes, quando o registro fotográfico ainda não existia.

O cultivar de quiabo Campinas 2, resistente a alguns patógenos, foi líder de mercado em São Paulo na década de 1970. O programa foi retomado na década seguinte, sendo registrados novos cultivares em 2014 (Figura 3).

Figura 3. Cultivares IAC de quiabo: Nissei, Mori e Midori, de fruto liso; Guiné e Dacar, de fruto quinado.

O tomate de mesa do grupo ‘Santa Cruz’ originou-se de um cruzamento natural entre os cultivares Rei Humberto e Redondo Japonês ou Chacareiro ocorrido em lavoura de produtores de tomate em Suzano ou Mogi das Cruzes, SP, no final da década de 1930. Plantas atípicas foram selecionadas e tiveram suas sementes multiplicadas separadamente. Com o deslocamento de horticultores nipônicos de São Paulo para o Rio de Janeiro, passou a ser cultivado no bairro de Santa Cruz, nome com o qual passou a ser conhecido. O novo cultivar teve aceitação imediata, sendo largamente plantado inclusive em São Paulo. ‘Santa Cruz’ provocou uma mudança radical no panorama varietal do segmento de tomate de mesa.

Figura 4. Frutos da cv. Rei Humberto (à esquerda) e da cv. Santa Cruz (à dir.) em aquarela da década de 1940, de autoria da ilustradora Maria de Lourdes Savóia. (Imagens pertencentes ao acervo do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico de Campinas - IAC).

As características visuais dos frutos do tomate Santa Cruz original e de seus prováveis parentais estão preservadas graças aos desenhos executados, em cores e em escala real, por ilustradores do IAC (Figura 4). É importante destacar que, naquela época, os tomates de calibre pequeno (máximo de 90 g) eram os preferidos pelo mercado consumidor.

A grande mudança no grupo Santa Cruz ocorreu após o lançamento dos cultivares Ângela Gigante (1969) e Santa Clara (1985), ambos desenvolvidos pelo programa de melhoramento de tomate de mesa do IAC. Esses cultivares lideraram o segmento de tomate de mesa no Brasil até a segunda metade da década de 1990.

O lançamento, em 1969, do cv. Ângela causou nova mudança na história da tomaticultura de mesa no Brasil. Em pouco tempo, esse cultivar conquistou a preferência dos produtores e do mercado. O seu êxito é atribuído, principalmente, à resistência a doenças e à alta produtividade nas diferentes regiões produtoras de tomate de mesa do país. Em curto prazo, o mercado passou a ser disputado por diferentes seleções derivadas diretamente do cv. IAC Ângela, destacando-se os cultivares Ângela Super, Ângela LC, Ângela Zambon, Ângela Hiper, Ângela G-51 entre outros. Desde essa época, as diferentes seleções com a tipologia ‘Santa Cruz’ passaram a constituir o “Grupo Santa Cruz”.

Por volta de 1978, o lançamento da seleção IAC Ângela Gigante I-5100 representou outro importante avanço no segmento de tomate de mesa. Esse cultivar teve grande êxito comercial por apresentar frutos grandes. IAC Ângela Gigante chegou a ocupar 70% da área plantada com tomateiro estaqueado no país até o final da década de 1980.

Em 1985, foi lançado o cv. IAC Santa Clara, de porte mais baixo e fruto mais arredondado em comparação ao IAC Ângela Gigante. A reação de toda a cadeia produtiva de tomate para mesa foi altamente positiva, uma vez que o mercado demandava frutos cada vez maiores e de boa qualidade. Em curto prazo de tempo, ‘Santa Clara’ desbancou o cultivar líder Ângela Gigante em todas as regiões produtoras de tomate de mesa do Brasil.

As seleções praticadas nas populações do grupo Santa Cruz propiciaram um extraordinário e progressivo aumento da massa média de fruto. Desde seu surgimento, no Rio de Janeiro, ao lançamento do cultivar IAC Santa Clara, 45 anos mais tarde, a massa média de frutos do tipo de melhor cotação no mercado quase que triplicou, passando de 65 g para 180 g. Além disso, houve melhoria na coloração do fruto com a eliminação do caráter ombro verde, permitindo maturação vermelha uniforme (Figura 5). 

Figura 5. Aumento da massa média de frutos das seleções derivadas da população original Santa Cruz

As contribuições do IAC para o melhoramento de alface também são notáveis. As pesquisas tinham como foco a obtenção de cultivares do tipo manteiga com resistência ao vírus do mosaico da alface e ao calor. O primeira cultivar oriundo desse programa foi ‘Brasil 48’, que, em 1973, já havia conquistado a preferência dos produtores paulistas. Nos anos subsequentes, outros cultivares da série Brasil, designados de Brasil 202, Brasil 221, Brasil 303 e Brasil 311, tiveram idêntico sucesso comercial, assim como suas versões comerciais ‘Áurea’, ‘Aurora’, ‘Floresta’ entre outras, lançadas pela iniciativa privada.

No programa de melhoramento de pimentão, em 1968, foi lançado o cultivar Agronômico 8, o primeiro da série Agronômico com resistência múltipla às estirpes do vírus do mosaico do pimentão (PVY). Da série, destacou-se ‘Agronômico 10G’, liberado em 1971. Por mais de uma década, esse cultivar e as seleções ‘Magda’ e ‘Margareth’, diretamente derivadas de ‘Agronômico 10G’, foram os mais plantados em todo o país. ‘Agronômico 10G’ foi, ainda, uma fonte de resistência muito utilizada em programas de melhoramento em vários países. 

No melhoramento do morangueiro, o cultivar IAC Campinas, lançado em 1960, tornou-se referência devido à produtividade, à precocidade, ao sabor e ao aroma do fruto, liderando o mercado até o início da década de 1990. ‘IAC Guarani’, lançado em 1979, continua atendendo ao mercado do morango congelado inteiro. Em 1989, foi lançado o cultivar Princesa Isabel.

Entre as pimentas, merecem destaque os cultivares Agronômico 11 e Cambuci IAC Ubatuba. Agronômico 11 é uma pimenta cujo grande mérito foi introduzir no mercado paulista uma pimenta doce e longa que logo agradou ao consumidor para uso como pimenta verde, conhecida no mercado como pimenta americana. Permaneceu em cultivo durante duas décadas, sendo substituída por híbridos comerciais, sendo, hoje, utilizada tanto verde quanto madura. Por ser resistente a vírus Y, foi também utilizada como fonte para a obtenção de outros cultivares desse segmento.

A pimenta Cambuci IAC Ubatuba, também conhecida como chapéu-de-frade, foi selecionada por sua alta resistência aos ácaros rajado e branco, ao vírus Y e à folha-miúda-da-pimenteira. Tem formato campanulado e uma leve pungência somente perceptível ao paladar mais sensível aos capsaicinoides. Seu sabor diferenciado e sem pungência é apreciado pelos consumidores de pimenta que não toleram os tipos pungentes. A exemplo de ‘Agronômico 11’, tornou-se um nicho de mercado, sendo cultivada até hoje.

A partir de 2006, iniciou-se a incorporação de resistência ao oídio em pimentão. Em 2008, por meio de cruzamentos interespecíficos, foi incorporada resistência ao oídio e a tospovírus em pimenteiras dos tipos varietais americana vermelha e amarela, malagueta, dedo-de-moça vermelha e amarela e murupi. Foram obtidos híbridos pungentes e não pungentes. A maior parte dos híbridos está em fase de avaliação, tendo sido selecionadas plantas de pimenta doce com tolerância ao oídio (Figura 6).

Figura 6. Seleções IAC de pimenta doce tolerantes ao oídio.

A partir de 1998, foi iniciado trabalho de resgate e avaliação de cucurbitáceas subutilizadas, com destaque para a seleção de cabaças doces e maxixe liso (Figura 7).

Figura 7. Algumas cucurbitáceas subutilizadas da coleção IAC: (A) quiabo-de-metro, Trichosanthes cucumerina var. anguina; (B) cabaça doce, Lagenaria siceraria; (C) bucha vegetal, Luffa cylindrica; (D) melão caboclo, Sicana odorifera; e (E) maxixe liso, Cucumis anguria

Raízes e tubérculos

- Mandioca

No Estado de São Paulo, a mandioca divide-se em duas categorias, mesa e indústria. A mandioca de indústria destina-se à produção de amido e farinha, sendo colhido cerca de um milhão de toneladas de raízes por ano, avaliado em R$170 milhões, em 2015. A mandioca de mesa é comercializada in natura e processada em ambiente doméstico. Anualmente, são comercializados cerca de 10 milhões de caixas de 23 kg, com valor estimado de R$93 milhões (IEA, 2015). A mandioca de mesa ainda é de grande importância social na agricultura periurbana, ainda que com comercialização incipiente e cujos dados não integram os dados estatísticos.

O programa de pesquisa de mandioca do Centro de Horticultura teve início no final do século XIX por meio de trabalhos básicos, embora dispersos, como descrição de doenças, identificação de patógenos, relato de ocorrência de pragas e estudos de coleções de variedades nativas. Essas informações foram o alicerce para o estabelecimento de pesquisas com mandioca a partir de 1935.

Nas décadas de 1940 e 1950, a variedade Branca de Santa Catarina, selecionada pelo Centro de Horticultura, substituiu a variedade Vassourinha, dizimada por epidemias de bacteriose. O bom desempenho agronômico de ‘Branca de Santa Catarina’ permitiu a expansão da cultura para produzir farinha de raspas de mandioca misturada à farinha de trigo. O Estado de São Paulo chegou a produzir cerca de dois milhões de raízes apenas com essa variedade.

No início dos trabalhos, considerou-se que mandioca de mesa deveria ser estudada separadamente de mandioca industrial, decisão que se mostrou acertada, pois permitiu estabelecer competências e técnicas de pesquisa distintas para dois mercados com necessidades bastante diferentes.

As pesquisas com mandioca industrial sempre foram mais intensas em função da importância desse mercado, principalmente em volume de produção. Em 1950, foi publicado o trabalho base para o plantio de mandioca em grande escala no Estado de São Paulo, que se tornou referência mundial. Envolvia recomendações de variedades, adubação, manivas-semente, épocas de plantio e outros. O programa desenvolveu, ainda, ‘IAC – Mantiqueira’, a variedade mais distribuída no mundo com o nome CMC-40 (sigla do banco de germoplasma do CIAT), amplamente cultivada em Cuba e padrão em ensaios internacionais nas décadas de 1970 e 1980

Nos anos 1980, as pesquisas com mandioca foram consideravelmente ampliadas, principalmente em colaboração com outras instituições, sendo seu principal resultado a distribuição da variedade IAC 12, hoje amplamente cultivada no cerrado brasileiro. Mais recentemente, a variedade industrial IAC 90 tem sido cultivada na Bahia, Mato Grosso do Sul e Paraná, e a variedade de mesa IAC 576-70, no Distrito Federal, Goiás e em outros estados brasileiros. 

No Estado de São Paulo, variedades criadas pelo Centro de Horticultura foram altamente impactantes. Variedades industriais: ‘IAC 13’ é cultivada em locais onde não ocorre superalongamento; ‘IAC 14’ aumentou a competitividade da cultura no Estado de São Paulo pela alta produtividade, resistência à bacteriose e alto teor de matéria seca mesmo quando cultivada em solos de baixa fertilidade; ‘IAC 90’ é amplamente cultivada em solos de média e alta fertilidade para a produção de farinha de mandioca. Variedades para consumo in natura: ‘IAC 576-70’ é a principal variedade cultivada no Estado de São Paulo; foi rapidamente adotada por pequenos agricultores devido ao alto desempenho agrícola e à qualidade culinária; foi a primeira variedade cultivada de polpa amarela, contendo maior teor de carotenoides do que as variedades anteriores, de polpa branca; permitiu a criação de pequenas agroindústrias locais e regionais para atender ao mercado nascente de produtos hortícolas processados (alimentos congelados); Clone 6/01, que tem raízes com polpa muito amarela, de forte apelo estético e alto teor de betacarotenos, equivalente a 900 UI de vitamina A enquanto ‘IAC 576-70’ tem, aproximadamente, 250 UI e as antigas variedades brancas têm 20 UI.

As variedades de mandioca industrial originadas do programa de melhoramento do Centro de Horticultura causaram forte impacto pelo alto rendimento agrícola, alto teor de matéria seca, resistência à bacteriose e adaptação à mecanização. As variedades de mesa, além do alto desempenho agrícola, têm boas características culinárias e nutricionais.

Atualmente, a continuação dos trabalhos pode vir a provocar grandes impactos. O melhoramento é um processo contínuo, pois as variedades devem ser substituídas por outras que atendam às novas demandas do setor produtivo. Há que se considerar que, para se desenvolver uma nova variedade, são necessários mais de 10 anos de pesquisas e leva-se um período de tempo para difundi-la junto ao setor produtivo.

Dispõe-se de clones-elite de mandioca industrial em fase final de seleção, que poderão substituir variedades antigas com vantagens como maior produtividade e facilidade de cultivo mecânico. A médio e longo prazos será possível a criação de variedades com propriedades tecnológicas diferenciadas e que atendam aos novos sistemas de produção, com menor impacto ambiental, como cultivo mínimo e plantio direto. Clones de mandioca de mesa também estão em avaliação e poderão gerar novas variedades com alto valor nutritivo. Em períodos mais longos, as atuais variedades poderão ser substituídas por outras que agreguem alto desempenho agrícola, alto valor nutritivo e qualidade culinária superior.

- Batata

Os trabalhos de melhoramento genético de batata do Centro de Horticultura também foram iniciados antes da década de 1930, sendo gradativamente ampliados após 1935. A partir de 1949, foi introduzida técnica de cruzamentos controlados em casa de vegetação e o grupo de trabalho intensificou as atividades de seleção de clones avançados derivados do programa de melhoramento que teve como resultado a obtenção do cultivar Aracy (IAC-2).

Em 1972, após seleção, foi obtido o cultivar IAC Itararé (IAC-5986). Em 1986, foi identificado um mutante de ‘Aracy’ na Estação  Experimental de Itararé, que recebeu o nome de cultivar Aracy Ruiva. Em 1980, nos campos de avaliação de clones-elite, destacou-se o clone IAC-6090, posteriormente registrado como cultivar IAC Ibituaçu. Em 2000, foram obtidos o cultivar IAC Vitória e o clone IAC-3.65, este em processo de avaliação. Todos os cultivares têm resistência às principais doenças foliares, como requeima e pinta preta e às principais viroses que incidem sobre a cultura da batata. Além disso, apresentam adaptabilidade e alta produtividade em sistemas de produção de baixo impacto com redução no uso de insumos (Tabela 1). 

Tabela 1. Características de cultivares de batata do programa de melhoramento do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

De 2008 até o presente, as pesquisas com batata foram ampliadas mediante novos campos de cruzamentos e seleção de clones-elite em ambientes com alta temperatura visando à tolerância ao calor. Atualmente, além da busca continuada por material genético de alto potencial produtivo e de ampla resistência às principais doenças da batata, buscam-se clones com características tecnológicas superiores e de dupla aptidão visando atender aos segmentos de indústria e mesa. Nesse conceito, destacam-se os clones IAC 145-11 e clones com polpa e película coloridos, destinados a nichos específicos de mercado.

Desde o início, as atividades de pesquisa com batata permitiram construir um arcabouço científico multidisciplinar, integrando as áreas de fitotecnia e fitossanidade ao melhoramento. Exemplo disso foi o trabalho desenvolvido pelo Centro de Fitossanidade do IAC com relação ao vírus do enrolamento da folha da batata (PLRV) e, mais recentemente, com o vírus PVY-NTN e com as viroses causadoras do mosaico amarelo deformante da batata.

Os cultivares de batata do programa de melhoramento do Centro de Horticultura destacam-se pela sua rusticidade e extrema resistência às principais doenças foliares e tolerância às viroses, sendo, por isso, preferidos para o plantio em sistemas de produção com baixo uso de insumos e pela agricultura orgânica.

No Estado de São Paulo, a produção de batata está distribuída em três épocas (águas, seca e inverno), que, juntas, ocupam área de 26,8 mil hectares. As áreas do planalto paulista, sudoeste do Estado e próximas ao sul de Minas Gerais produzem 15,5 milhões de sacas de 50 kg e abastecem o mercado consumidor paulista e de outras praças como Minas Gerais e Rio de Janeiro, movimentando mais de R$1 bilhão com a comercialização da produção. Uma pequena parte desse mercado está, aos poucos, sendo ocupada pela produção em sistema orgânico e de baixo uso de insumos realizado principalmente pela agricultura familiar. Nesse sistema de produção é recomendado o uso de cultivares IAC.

Plantas aromáticas, medicinais e condimentares

Os óleos essências são componentes fundamentais na produção de perfumes, cosméticos e produtos de higiene. Esses produtos compõem um segmento específico do setor econômico da química fina, com destacado crescimento dos mercados brasileiro e mundial nas últimas décadas, o Brasil ocupando o segundo lugar, atrás somente dos Estados Unidos.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC, 2015), o mercado nacional cresceu de US$6,4 bilhões, em 1996, para US$42,6 bilhões, em 2015. Existe um enorme potencial a ser mais bem explorado pelos produtores rurais brasileiros, que têm capacidade técnica e ambiental de fornecer um amplo leque de óleos essenciais de plantas aromáticas.

A coleção de plantas aromáticas, medicinais e condimentares do Centro de Horticultura, constituída ao longo de mais de 75 anos, é composta por mais de 170 espécies e tem por objetivo preservar as espécies de interesse econômico e científico.

As atividades de pesquisa envolvem melhoramento genético, fitotecnia e inovação tecnológica, principalmente de plantas aromáticas para fins de extração de óleos essenciais. Essas pesquisas possibilitaram ao Centro de Horticultura criar uma coleção de óleos essenciais, atualmente composta por 558 amostras catalogadas, constituindo o Acervo de Aromas do IAC.

As pesquisas responderam pelo desenvolvimento da variedade de menta IAC-701, com alto teor de óleo essencial, rico em mentol e resistente à ferrugem e responsável pela quase totalidade do óleo produzido no Brasil entre as décadas de 1950 e 1960. Nesse período, o País foi o principal produtor mundial de mentol. No mesmo período, também foi desenvolvida a tecnologia de destilação de óleo essencial sob pressão para vetiver e se criou destilador para fins de pesquisa.

O Centro de Horticultura desenvolveu, ainda, pesquisas visando obter novos produtos aromáticos, medicinais e cosméticos, permitindo patentear substância para proteção solar presente no óleo de café e seu uso para cicatrização de úlceras cutâneas. Foram determinadas, também, centenas de substâncias presentes nos diferentes acessos do banco de germoplasma de citros do Centro de Citricultura.

Em parceria com a iniciativa privada, foram desenvolvidas pesquisas a partir do cultivo sustentável do manjericão visando à obtenção de linalol com a mesma qualidade cosmética que o óleo essencial extraído do pau-rosa. Além do desenvolvimento do novo sistema de produção, a parceria resultou na criação de equipamentos de destilação adequados para extração de óleos essenciais que já foram instalados em mais de cinco dezenas de agricultores.

Figura 8. Flor, planta e fruto de urucum de acessos da Coleção de Urucunzeiros do Centro de Horticultura – IAC/APTA/SAA, cultivadas no Polo Regional Centro Norte em Pindorama, SP.

Nas últimas décadas, espécies produtoras de corantes naturais foram incorporadas à coleção do Centro de Horticultura. Destacam-se 63 introduções de urucum visando à seleção de cultivar mais produtivo, com alto teor de corante e resistente a doenças e adaptado para o cultivo no Estado de São Paulo (Figura 8).

Figura 9. À esquerda, plantação de gerânio na propriedade de Seizo Furukawa, Bastos, SP, 1960; no centro, transporte de gerânio na Fazenda Rancho Alegre, Jaú, SP, 1959: à esquerda, João Ernesto Dierberger e esposa, no centro, T. Moelan e à direita, João Dierberger; à direita, plantação de gerânio no Centro Experimental Central, Campinas, SP.

É importante ressaltar que, desde o início das atividades com plantas aromáticas, medicinais e condimentares, sempre houve proximidade e parceria com a iniciativa privada e com produtores (Figuras 9 e 10). Atualmente, há seis projetos estabelecidos em parceria público-privada: cinco parcerias envolvem o segmento de plantas aromáticas para fins de adaptabilidade das espécies e extração de óleos essenciais; e um projeto no segmento de plantas produtoras de corantes. Esses projetos abrangem desde um pequeno produtor interessado em investir em uma miniagroindústria até empresas líderes no mercado mundial de aromas e corantes.

Figura 10. Áreas de experimentos de espécies aromáticas em parceria com a iniciativa privada. Da esquerda para direita, cultivos de capim limão e lavanda, em sistema de produção orgânica em Bom Sucesso de Itararé, SP, e de gerânio e manjericão em sistema convencional, em Cunha, SP.

Palmeiras produtoras de palmito

A passagem de uma espécie botânica com características desejáveis para cultivo agrícola requer muitos trabalhos de pesquisa e esse tem sido o foco das atividades desenvolvidas no Centro de Horticultura no âmbito da produção de palmito.

A produção de palmito, tradicionalmente, sempre foi baseada no extrativismo da palmeira juçara. No entanto, a partir da década de 1960, houve a percepção da necessidade de plantio sistemático da palmeira juçara para produção de palmito em contraposição à intensa exploração predatória da espécie. Nos vinte anos seguintes, nas décadas de 1970 e 1980, as pesquisas disponibilizaram sistemas de produção de palmiteiro juçara e também a introdução e a adequação de técnicas de cultivo de açaizeiro para os produtores do Estado de São Paulo. Também nessa época, uma nova alternativa para produção de palmito foi desenvolvida pelo Centro de Horticultura: um híbrido interespecífico entre juçara e açaí. Na década de 1990, a identificação de novas espécies de palmeiras de ciclo curto para produção de palmito, tais como a pupunheira e a palmeira real australiana, proporcionou uma mudança de cenário para a produção de palmito no país. Nesse novo cenário, a produção de palmito passou de plantios de palmeiras em condições de agroflorestas para cultivo intensivo e adensado, sistema similar ao de outras espécies hortícolas. Segundo os dados do IBGE (2016), no que se refere à quantidade total produzida de palmito cultivado, houve aumento significativo nos últimos anos e, praticamente, retração de extração vegetal com tendência de queda desde 1997.

O Centro de Horticultura teve papel marcante na introdução do cultivo de pupunheira no Vale do Ribeira, que, atualmente, é a principal região produtora de palmito no Brasil. De acordo com dados do IBGE (2016), em 2013 e 2014 não se identificou nenhuma produção paulista extrativista de palmito. O Estado de São Paulo destaca-se como um dos maiores produtores brasileiros de palmito, com área destinada a colheita de 7.229 hectares, em 2015. Gradualmente, à medida que o cultivo dessa palmeira vem se expandindo para outras regiões do Estado, estão sendo disponibilizados pacotes tecnológicos para produção de palmito pupunha em regiões edafoclimáticas distintas, com e sem ocorrência de deficit hídrico do solo.

Atualmente, estão sendo desenvolvidos cultivares de pupunheira com crescimento mais uniforme e adaptados ao cultivo no Estado de São Paulo, bem como tem sido dada ênfase ao desenvolvimento de tecnologia para produção de sementes de pupunheira.

Floricultura

A cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais responde, no Brasil, por negócios da ordem de dois bilhões de reais anuais. Espécies tropicais como antúrios, helicônias, bastão-do-imperador, gengibre ornamental e alpínia representam 20 % desse mercado.

A pesquisa em floricultura e plantas ornamentais, que torna o IAC instituição pioneira nesse segmento, teve início no final da década de 1940, com estudos dirigidos às floríferas anuais, às orquídeas e às rosas. Em 1950, foram plantadas as primeiras mudas de árvores e palmeiras em área localizada no atual Centro Experimental de Campinas. No início da década de 1960, foi criada a Seção de Floricultura e Plantas Ornamentais, com grande expansão destas e de outras coleções biológicas.

A coleção de árvores e palmeiras conta com 1.500 espécies arbóreas e 600 espécies de palmeiras. Alguns dos reflexos positivos dessa coleção referem-se à diversificação da arborização urbana, seleção de espécies arbóreas mais adequadas ao uso em vias públicas, parques e jardins e ao aumento do conhecimento das floras regional, nacional e mundial. Como exemplo, pode-se citar que as primeiras sementes de espatódea (Spathodea campanulata P. Beauv.), alecrim-de-campinas (Holocalyx balansae Mich.) e da palmeira corifa (Corypha umbraculifera L.), entre outras, foram distribuídas pelo país por intermédio das matrizes dessa coleção do Centro de Horticultura.

A coleção de herbáceas ornamentais foi a base dos programas de melhoramento de hemerocale, antúrio, amarílis e gladíolo, com dezenove, dez, quatro e dois cultivares registrados respectivamente. A coleção biológica de Zingiberales ornamentais, composta por espécies dos gêneros Heliconia, Costus, Dimerocostus, Chamaecostus, Cheilocostus, Etlingera e Zingiber entre outras, possibilitou o registro de quatro cultivares de Etlingera (Figura 11) e de um cultivar de gengibre ornamental.

Figura 11. Variedades de bastão-do-imperdador. Da esquerda para direita, Bastão IAC - Camburi, Bastão IAC - Itamambuca, Bastão IAC - Prumirim.

Entre as helicônias, a coleção gerou resultados que proporcionaram a inclusão, no mercado nacional, de importante alternativa de produção de flores tropicais. Quando do início da coleção, não existia no país nenhum produtor de helicônias, sendo apenas reconhecidos dois colecionamentos de algumas espécies – um no Sítio Burle Marx, RJ, e outro em Cotia, SP, na Roselândia Agrícola. 

A coleção biológica de helicônias subsidiou, no transcorrer das duas últimas décadas, muitos trabalhos científicos e dissertações de mestrado e teses de doutorado. De uma das teses elaboradas, selecionaram-se espécies adequadas para a produção de flor de corte. Outros estudos permitiram dimensionar cultivos adequados, de tal forma que a cultura das espécies do gênero passou a ser implementada em vários estados brasileiros, de Santa Catarina ao Amazonas. Atualmente, as helicônias são cultivadas por produtores empresariais no Ceará e Alagoas, por agricultores familiares, em Sergipe, Alagoas, Bahia, Amazonas e Pará, por comunidades indígenas, em São Paulo e Rio de Janeiro, e por populações ribeirinhas, no Amazonas e Pará.

No momento, vê-se como imprescindível a realização de coletas de espécies de helicônia em função do desaparecimento de populações inteiras na região costeira brasileira, sobretudo na Bahia, Alagoas, Pernambuco e Amazônia.

Devem ser destacados os trabalhos iniciados no Centro de Horticultura na década de 1980 com tecnologia pós-colheita de flores de corte, que produziram as primeiras formulações de conservantes florais, mostrando, ao floricultor, o efeito benéfico de seu uso no prolongamento da longevidade e manutenção da qualidade das flores. Atualmente, além do uso de soluções conservantes, têm-se desenvolvido estudos sobre doenças pós-colheita e técnicas que permitam a manutenção da qualidade por longo período como uso do frio e de atmosfera modificada ou controlada.

Maracujá

O Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial de maracujá-amarelo, cultivado em todos os Estados da Federação e no Distrito Federal. Em 2015, mais de 50 mil hectares foram ocupados com a cultura no país, com produção total próxima de 700 mil toneladas anuais (IBGE, 2015).

O fruto é comercializado como fruta fresca para mercados atacadistas e varejistas e, principalmente, para as indústrias de processamento de suco e outros derivados.O suco de maracujá é o terceiro mais produzido no Brasil, atrás dos sucos de laranja e caju, e atinge preços altamente interessantes no mercado internacional.

A produção de maracujá é uma atividade de grande importância socioeconômica para o país, especialmente para a agricultura familiar, devido ao seu elevado grau de empregabilidade. Cada hectare cultivado gera de 3 a 4 empregos diretos e de 8 a 9 indiretos, nos diferentes elos da cadeia produtiva. Daí ser uma cultura utilizada para a fixação de mão de obra no campo.

A cultura permite rápido retorno econômico, além de fluxo de renda distribuído pela maior parte do ano. Por isso, o cultivo de maracujá tem sido altamente interessante para a agricultura familiar, oferecendo uma renda mensal para atender suas necessidades básicas.

Até 1999, não havia cultivar de maracujá disponível e nem sementes que pudessem oferecer algum diferencial aos produtores. Nesse ano, o Centro de Horticultura fez o lançamento de três cultivares de maracujá-amarelo, registrados no Ministério da Agricultura como IAC 273 (Monte Alegre) e IAC 277 (Jóia), para mercado in natura, e IAC 275 (Maravilha) (Figura 12), para processamento industrial.

Juntamente com os cultivares, o Centro de Horticultura disponibilizou para todo o Brasil um programa inédito de produção regular de sementes selecionadas, com garantia de origem. Disponibilizou, ainda, um manual de cultivo para a divulgação da tecnologia de produção recomendada para a cultura. Essa inovação resultou em significativos ganhos de produtividade nos pomares, alguns triplicando sua produção, e em redução nos custos de produção por caixa. Dessa forma, consolidou-se a produção do maracujá como alternativa bastante interessante para pequenas propriedades. Estabeleceram-se, também, dois padrões de fruto, direcionados aos diferentes segmentos de mercado da cadeia produtiva do maracujá: frutas frescas e agroindústria.

A partir desses cultivares, foram estabelecidos novos padrões de comercialização de maracujá em cada segmento. Os produtores passaram a classificar seus frutos e a direcionar a produção para o mercado desejado. Com maior uniformidade e maior qualidade, os preços obtidos pelo setor produtivo também se diferenciaram e a produção nacional se ampliou.

Figura 12. IAC 275 - maracujá azedo para agroindústria: casca fina, alto rendimento industrial, teor de sólidos solúveis > 15 oBrix e polpa de coloração alaranjado-intenso

A partir dos cultivares IAC, o programa de melhoramento subsequente passou a considerar padrões novos e mais definidos de classificação e produtividade, com algumas variações regionais em função da maior ou menor exigência dos mercados. Posteriormente, o Centro de Horticultura lançou um cultivar de maracujá roxo (IAC Paulista) para atender a um nicho de mercado de frutas frescas vendidas por unidade para consumo interno e exportação (Figura 13).

Figura 13. IAC Paulista - maracujá roxo como alternativa de mercado.

Perspectivas para o acesso a novos mercados

O Centro de Horticultura sempre se destacou no melhoramento genético de plantas, lançando cultivares que fizeram o crescimento da horticultura paulista. Muitos dos cultivares aqui desenvolvidos estão disseminados por diversas regiões agrícolas dentro e fora do País. No entanto, a horticultura é um setor extremamente dinâmico e o mercado consumidor está sempre demandando novidades, o que impõe um grande desafio para os melhoristas da nova geração diante da necessidade de se desenvolverem cultivares com tipologia diferenciada e inovadora, isto é, que, além da adaptação aos diferentes agroecossistemas, apresentem atributos de qualidade visual e gustativa e atendam aos anseios do consumidor. Atualmente, além do apelo visual, há demanda crescente por produtos com qualidade comprovada, independentemente de suas origens – tradicional, orgânica, hidropônica e outras

Do ponto de vista alimentar, a globalização trouxe dois paradoxos: ocorreu uma especialização em favor de poucas culturas, reduzindo a cesta de alimentos; contrariamente, no entanto, a própria globalização do mercado agrícola tem sido responsável pelo aumento do interesse pela exploração de novas espécies ao mostrar o risco com a segurança alimentar da humanidade. Dessa forma, o advento da globalização tem-se mostrado como uma oportunidade para reinventar o cenário brasileiro do melhoramento de espécies hortícolas, uma vez que a exploração do potencial dessas novas espécies poderá, efetivamente, contribuir para ampliar seu consumo bem como para a diversificação e acesso a novos mercados.

A presente retrospectiva mostra que a obtenção de tantos cultivares e seu impacto na horticultura paulista e brasileira só foram possíveis graças à diversidade genética das espécies que compõem o germoplasma e a dedicação e capacitação da equipe de pesquisadores e de apoio técnico do Centro de Horticultura. Essas coleções ainda são das mais importantes do Brasil e fundamentais para que os agricultores do futuro continuem tendo novas opções de cultivares IAC, mais produtivos, com mais qualidade, resistentes e nutritivos, que permitirão o acesso a novos mercados. Para isso, há que se investir:

- Em prospecção de espécies que atendam às demandas por novos sabores, aromas, cores e formas de produtos hortícolas visando atender a nichos de mercado com alto valor agregado;

- Em pesquisa para o horticultor familiar, visando à inclusão econômica e social;

- No fortalecimento dos papéis da pesquisa e da extensão rural como instrumentos potencializadores da melhoria do setor hortícola;

- Na continuidade dos projetos de melhoramento envolvendo o fascinante e ainda pouco explorado campo das espécies hortícolas como alimento funcional;

- Na formação continuada de equipe especializada de pesquisadores e técnicos.

Para tornar isso factível, é preciso estabelecer uma ação cooperativa multidisciplinar integrada entre profissionais das áreas de agronomia, medicina, biotecnologia, bioquímica, farmacêutica, nutrição humana e de tecnologia de alimentos. Nesse sentido, a ênfase deverá ser para a obtenção de cultivares que gerem baixo impacto ambiental ou cujo cultivo seja capaz de substituir matérias-primas ainda hoje obtidas pela exploração predatória da flora nativa.

Há que se ampliar as parcerias público-privadas e com empresas agroincubadoras de bases tecnológica e social, considerando que os programas públicos de pesquisa já não têm a mesma dinâmica do passado, principalmente devido ao número reduzido de pesquisadores melhoristas na ativa. Há ainda que se investir em transferência do conhecimento por meio de um banco de informações e de treinamento e capacitação.

O Centro de Horticultura possui um patrimônio intelectual e tecnológico que precisa ser ampliado e um patrimônio genético que não pode ser perdido e deve ser utilizado de modo racional para a formação de novas gerações de pesquisadores e cultivares. Das coleções biológicas do IAC, 30% são constituídas por espécies hortícolas, coordenadas pelo Centro de Horticultura. Esse patrimônio genético, que já respondeu pela criação de quase uma centena de cultivares hortícolas, constitui-se em recurso genético estratégico para o contínuo desenvolvimento da horticultura.

A pesquisa científica é o caminho mais eficiente para a independência tecnológica, modernização, competitividade e sustentabilidade da horticultura paulista e brasileira. Por meio da pesquisa e da inovação tecnológica é que novos mercados são acessados.

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